post scriptum:
duas janelas se mesclam nesta reflexão, vejamos a cor da moldura de cada uma:
Cibele Matheus
Cristiane Santos
*
Fragmentos de PEQUENAS memórias URGÊNCIAS de um ano que passou . . .
2012
De que são feitos os sonhos? O que é o homem/mulher? O que é o
sonho? O que é um ARTISTA? O que são os encontros? Quais são os sentidos / os
nossos sentidos de comunidade/coletividade?
Bloco Maria Fuá/2012
Insegurança
Agora somos nós duas
Pois é...
Tocar o barco, colocar o bloco na Praça.
Começo de ano é sempre difícil, acho que o
começo de tudo é difícil, gosto mais do meio.
“Um carnaval bem aproveitado vale para o ano
inteiro”. Esta eu aprendi em Barão Geraldo.
Colocar os pés no chão, tirar a cabeça das
nuvens... Planejar, contar as moedas do caixa, buscar os amigos parceiros.
Domingo antes do carnaval íamos fazer o cortejo
pra divulgar o Bloco... Um tiro, um corpo e... E agora? Será que convém colocar
o Bloco na rua? Mas como cancelar? É melhor conversar com quem entende do
assunto, de carnaval e de comunidade, Mestre Ditinho da Congada e Neusa Borges:
“Tem que ter sim, até pra mostrar que o Calux
não é isso, limpar essa mancha com a alegria”
O palhaço da moto, uma figura que não chegamos
a conhecer pessoalmente foi a salvação da divulgação do Bloco Maria Fuá. Virar quatro, virar seis, contas de
multiplicação para dar conta de tudo.
Mais foi um carnaval muito bonito, a Fuá
cresceu, tinha mais gente do que em 2011. Amigos queridos, amigos de amigos
queridos, as crianças, a comunidade fazendo folia debaixo da saia da Fuá.
... Sol, sol, sol, sol, sol
... Água
de mangueira pra refrescar
... Pão com carne louca e suco.
A possibilidade do encontro, de comunhão. É a
nossa folia, nosso mundo aos avessos, nossa segunda vida.
Quais são os
sentidos / os nossos sentidos de comunidade/coletividade?
Trocar... trocar com o outro... Quais são as nossas URGÊNCIAS!?
Diálogo
da Cia. AS Marias com representantes do poder público ou pérolas raras...
...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?
Com a inauguração do CLAC – “O mundo fantástico
das artes cênicas” e a entrada de um monte de comissionados andreenses na
Secretaria de Cultura perdemos nosso espaço de ensaio e criação na Câmara de
Cultura, minto... Podíamos utilizar o espaço à noite, depois de arrastar
cuidadosamente os banners da exposição, podíamos usar o quintal que há mais de
um ano o vento derrubou a lona e não foi colocada outra no lugar: então com
chuva não dá pra usar, com sol de lascar nos lascamos... E a antessala que até dá
pra alongar duas pessoas, mais do que isso fica difícil.
Você
conhece o espaço da Câmara de Cultura? E o espaço do CLAC?
“O CLAC é o lugar das artes cênicas, da
pesquisa, tem espaço pra guardar nossas coisas, cozinha, chuveiro...”
...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?
É um espaço ótimo, mas não serve para nosso
trabalho, pois precisamos da rua, do contato com o passante.
“Mas tem uma Praça em frente ao CLAC que
pensamos utilizá-la para fazer teatro de rua”
...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?
Que legal, mas não é um local de passagem, é
praticamente o playground das casas dos arredores. Quem circula no Baeta além
dos moradores do Baeta? A Marechal concentra todos os bairros da cidade, toda
periferia da cidade. Sabemos que também é função do artista fomentar público,
fazemos isso no Calux, fazemos isso no Centro, temos uma história e um
compromisso com o nosso público, público este que estamos sempre formando e
sendo formados por eles.
“Não entendo por que As Marias são tem
resistentes ao CLAC?”
...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?
Minha filha, não somos resistentes ao CLAC, nós
somos resistentes a nossa estética.
Foi um ano de língua afiada e pouco juízo
Cristiane ao secretário de cultura na palestra
de inauguração do CLAC:
“Você
enquanto artista não tem vergonha de oferecer cachê de R$100,00 pros artistas
da cidade?”
“... Ai, por favor, chega de vale coxinha”
“... Nossa Neto! É tudo lindo o que você fala, mas eu já estou
por aqui dessa conversa. Uma hora é cargo comissionado, outra hora é equipe que
vira chefia, chefia que vira equipe. Isso tudo não deixa de ser um departamento
de cultura, é tudo muito escolar...”
Cibele em reunião com o Secretário, secretário
adjunto, funcionários comissionados, agente cultural e grupos que ocupavam a
câmara de cultura:
- “Eu estou cansada de toda vez ter que me
apresentar, falar do meu trabalho. Quatro anos de gestão e quatro secretários
de cultura!”
- “Sabe, às vezes eu fico pensando... sabe, já
pensei isso várias vezes... a vontade que eu tenho é de tacar fogo nessa
secretaria de cultura.”
Secretário adjunto:
– “Mas
você esperaria nós sairmos primeiro né?”
Cibele:
-“Não. Eu colocaria fogo em vocês também...”
Risos...
E tantas outras pérolas.
...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?
Assim, passamos a utilizar durante o dia o
espaço do CAJUV e a noite a Câmara de cultura.
An.dor
Repetir, repetir, repetir, repetir
Aulas com o Junior pela manhã, ensaio, criação
à tarde e a noite.
Projeto linha vermelha da Cia. do Miolo. Apresentação
de fragmento do trabalho em São Bernardo. Emoção. Bahia. Reflexão do trabalho.
Metodologias. Contatos...
No encontro de reflexão com todos os grupos
participantes do projeto, uma estranha sensação de deslocamento. A afirmação de
algumas escolhas, a escolha de fazer o trabalho com ou sem essa fomentação toda.
Quem é esse poder público? O que são esses editais? Rouanet, Proac, Lei de
fomento de São Paulo, Funarte, Vai, Petrobrás...
“Mas São Bernardo não tem dinheiro?” nos
perguntaram.
“Tem e muito, o que São Bernardo não tem é
vergonha na cara, o que São Bernardo não tem é uma classe artística que brigue
com e por dignidade”.
Falar do que realizamos em 2011, falar do que
fazemos na Praça do Calux nos deixaram orgulhosas, mas senti alguns olhares que
diziam: “Poderiam ganhar dinheiro com isso”.
Foi um ano em que nossas ações na praça diminuíram bastante para
dar abertura para o nascimento e aprimoramento de outro trabalho da Cia. O
espetáculo “An.dor”....nossas travessias dolorosas...afetivas... na busca do
encontro...encontrar-se com o outro...dançar para o outro...
Retrabalhamos o espetáculo inteiro, revisitamos
algumas imagens, alguns experimentos e apresentamos com o intuito de filmar o
espetáculo.
O An.dor é um espetáculo que continua em
processo, foi muito importante ter apresentado ele para pessoas da área
artística, tivemos um feedback muito positivo. É uma criança que está
aprendendo a An.dar... Engatinha, levanta tentando se equilibrar, dá uns
passinhos, cai, levanta, se apóia, dá mais alguns passinhos, cai de novo... Mas
esse ano ele vai aprender a An. dar, vai crescer.
Pequenas urgências ... mirar...refletir o ano em que o mundo não
acabou e nos apontou outras possibilidades de imersão e emergir para outras
evocações ...
Dançamos nossos andores pelo centro urbano da cidade... e os
parceiros que ali estavam conosco evocaram e acreditaram nos deuses da arte e
da beleza e aquele dia se encheu de perfume de flores...
A Moça
que casou com o Diabo...
EJA, Expresso Lazer... Alguns ensaios pontuais
na Praça. Alex, Anderson, Cibele e Cris.
Desde 2009, muita coisa foi se
modificando-movimentando no caminho, mudança de elenco, figurino, funções. Uma
escola para todos nós.
Só tenho a agradecer tudo o que eu aprendi com
esse espetáculo, com o público, com meus parceiros. Na verdade, não vou
conseguir me despedir nunca desse espetáculo onde fui Diabo, Roberval, Cigana,
Mambembe e Maroca. Essas personas todas estão em mim e eu nelas. Atuar é uma
troca com o que é e o que se pode ser. Já me bateu aquela saudade... Vontade de
escrever, de provocar o público, de ver o corpo do outro se sacolejando de
tanto rir.
A Moça será eterna em mim, será eterna nas
Marias, será eterna pra quem sempre se lembrar que uma vez assistiu a uma peça
que tinha uma Moça que queria se casar e que de tanto querer acabou se casando
com o Diabo...
2012
Faltou-nos? Faltou-nos também a poesia da praça... Faltou-nos
também habitar a nossa praça... pequena morada dos encontros com tantos
parceiros, artistas e gente que deseja este alimento... A reencontrávamos nas perguntas
e olhares daqueles participantes que também miraram e sonharam outras formas de
se habitar o lugar de morada....
E o que mira nossas urgências?
2013...
Os desejos para 2013?!
¿Que mira Maria?
Voltar os olhos pras ações na Praça. As poéticas da Praça... Bloco A Maria
Fuá...,
oficinas, Mostra.A Mostra Cia. As Marias de
Artes de Rua.. O Cine Mambembe... Contar histórias aos domingos às 17HS...
Formação, novas parcerias, novas trocas.
Circular... Conhecer lugares e pessoas.
. . . O
encontro...re-encontro com o Outro...
Novo espetáculo... Popular, dança, teatro,
música, intervenção, circo. Um infantil?
De que são feitos os sonhos? O que é o homem/mulher? O que é o
sonho? O que é um ARTISTA? O que são os encontros? Quais são os sentidos / os
nossos sentidos de comunidade/coletividade? Que estratégias serão necessárias
para
Trocar... Trocar com o outro...
Dedicação, paciência, humildade.
Aprender a escrever. Escrever nossa história,
nossos projetos, nosso processo, metodologia.
Quais são as nossas URGÊNCIAS!?
AS NOSSAS URGÊNCIAS POÉTICAS???!!!
“O que há de ser tem muita força”
Amém
Um comentário:
AVANTE, Marias.
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