A ansiedade no dia anterior... Como as crianças vão nos receber? Senti-me como me sinto numa estréia, com borboletas no estômago e coração queimando. Sonhei, mas não me lembro do sonho, sei que antes de acordar ouvi um anjo sussurrar nos meus ouvidos: “Eles sentiram falta”. Fiquei em estado de graça, não é todo dia que recebo um sopro divino. Eu também senti muita falta...
Domingo é dia de Erê, acendi uma
vela rosa e azul e rezei antes de sair de casa. Alegria, carinho, paciência,
generosidade, amor, que a criança que mora em mim esteja sempre viva.
Minha sobrinha Isabela é
integrante da nossa banda de um surdo e uma caixa, ela é a minha sobrinha mais
velha preferida, e eu fico muito feliz em tê-la ao meu lado brincando o
carnaval.
Bem, domingo é dia de Erê e
também dia de “tormento” para quem necessita de ônibus para transitar. E o que
esperar de um ônibus cujo número é 13? O que esperar?
Esperar, esperar, esperar, esperar...
Duas horas para depois o “bendito”
passar RESERVADO!!!!.
Não é de perder qualquer estado
de graça? Perdi, perdi o estado de graça que acordei, esqueci do anjo, liguei
pra SBCTrans e soltei os cachorros, reclamei, reclamei, esbravejei, esbravejei
até o homem que me atendeu desligar na minha cara. Tive que parar o 19 e pedir
carona até o centro para poder no centro pegar o 08. No centro... Esperar, esperar, esperar
mais meia hora.
Tive que respirar muito pra poder
me recompor... O que me consola é chegar à casa da dona Maria e ser sempre bem
recebida, neste domingo tinha feijão preto com lingüiça, arroz, farofa, tudo de
bom.
Vamos gente! Bora afinar os instrumentos e ir pra Praça, como
se eu soubesse afinar os instrumentos, mas estamos no caminho.
A garoa
tinha passado, o céu com o sol se abriu, olhei pra Praça cheia de meninos... Íamos
passando com os instrumentos e todos nos olhando, fomos até o palco de cimentão
e pronto, o encontro aconteceu;
Vieram
os mais chegados e já foram se chegando, nos abordando, nos cobrando... E nós
também fomos chegando, abordando, nos explicando.
Comecei falando que esse ano a
Maria Fuá está precisando urgente de pessoas pra ajudar na banda. Nossa banda
anda meio des-bandada sabe? E comecei a ensinar uns toques:
“Ra-pi-din-ho-eu-vou”- toque da caixa.
“Eu-vou-eu-vou-eu-vou...” do surdo.1,1,1– 1,2
ou tum, tá, tum –tá,ta do agogô
e outros toques que fomos inventando.
O ensaio-brincadeira funciona assim, aprende um toque, grita
o irmãozinho que sumiu de vista, assiste um pouquinho depois sai correndo,
solta pipa cantando alalaô, entra no cordão dançando com a Cris, toca me
olhando pra conferir se está certo, mesmo não estando certo eu dou um sorriso
incentivando, a Cris e a Isabela eu posso cobrar, os braços doem de
segurar o surdo, pausa pra conversa, chama aquele que está mais de cinco
minutos olhando de longe, quando toma coragem se aproxima, se aproxima e chama
a irmã, dona Maria assiste a tudo com seu olhar atento e paciente.
Vejo os pais nos bancos olhando as crianças, cantando
baixinho, aos poucos a Praça está mais cheia e pulsa no Ra-pi-din-ho-eu-vou...
A garoa vem voltando e nós nos despedimos com a promessa de um próximo domingo
cheio de graças.
Cibele Matheus
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