terça-feira, 17 de maio de 2011

Balanço da Mostra

:: BALANÇO DA MOSTRA ::
por: Anderson Gomes
Passamos pelo meio, a Mostra Cia. As Marias de Artes de Rua cruza o meridiano de sua investida rumo a 3° semana de acontecimentos na rua. Com espírito de instauração, o espaço urbano foi re-significado neste período de existência espetacular insistente: no meio do caminho tinha uma obra, tinha uma obra no meio do caminho!
Os passantes foram deveras surpreendidos pelo cortejo de abertura da "Mostra" onde os cortejadores munidos de instrumentos musicais e megafone requereram junto a principal via comercial da cidade de São Bernardo do Campo parte da atenção dispensada às compras do dia das mães. Os corpos enrijecidos pelo compromisso de presentear foram confrontados em seu espaço pela Corpocena.
Podemos dizer que a Mostra Cia. As Marias é descendente direta das manifestações que eclodiram na organização da "Mostra Lino Rojas" da qual fizemos parte em 2009. Em 2010 fomos convidados a participar da "Mostra de Teatro de Rua da Zona Norte" organizada pelo Núcleo Pavanelli. Estas experiências repousadas em nossas mentes seriam revolvidas entre o final de 2010 e começo de 2011 momento de re-organização da Cia. As Marias. O balanço de 5 anos de existência como um dos únicos grupos que trilharam os caminhos da rua como lugar de pesquisa nos levaria naturalmente a rever as experiências com as outras mostras e pensar algo neste sentido para a cidade de São Bernardo.
As artes de rua ainda são objeto de preconceito por parte do público e das administrações responsáveis pela organização de editais e demais artifícios para que grupos e artistas consigam singrar as muitas barreiras que os impedem de divulgar e realizar o seu trabalho.
A "Mostra Cia. As Marias" é antes de tudo uma tentativa junto a tantas outras que se desdobram pelo país afora de abrir caminho para o entendimento da importância não só da livre manifestação artística como também da possibilidade e necessidade dos grupos e coletivos de se autogerir sem mediação de administrações públicas que tem muitas vezes olhar pejorativo sobre as manifestações artísticas de rua.
Como bem observado pelo Sr. Marcos Pavanelli este tipo de organização promovido por grupos de teatro de rua tem por excelência o pressuposto da "convivência", a condição assumida pela chamada "arte de rua" exige estar em proximidade, exige cortejar a atenção do passante, envolvê-lo mesmo quando agressivamente por que o medo faz parte dessa relação, o medo de olhar por que o desejo reside neste medo, assim foi com a passagem de Mariana Vilela e sua fatal pergunta: Qual a possibilidade de uma cidade de afetos?.
Segundo Mariana Vilela esta pergunta foi respondida naquele dia 14, eu diria que ela vem sendo respondida entre cores e flores como nos ensinou certas margaridas na praça Névio Albiero. Nosso imenso Palco de Variedades não pára por aqui por que o palco é a rua e na rua todos podem ser atuadores.

4 comentários:

Mariana Vilela disse...

Cada vez mais faz-se necessário desterritorialir para (re)territorializar não só o espaço físico da cidade, mas, e, principalmente, o espaço simbólico da cidade carente de aFEtos. Cada vez mais faz-se necessário andar na contra-mão, contra-fluxo, assim somos mais vistos, vistos por outras perspectivas. Cada vez mais faz-se necessário sofrer o risco de riscar linhas e não pontos. Cada vez mais faz-se necessário... TRAVESSIA

Cia. As Margaridas disse...

É isso mesmo, Mari. Cada vez mais faz-se necessário transgredir este tempo, o tempo da cidade turbulenta, inquieta. Ouvir com outras partes do corpo, não com o ouvido. Viver o tempo presente, o tempo da criança. É isso, estar no contra-fluxo pra ser visto e ouvido.

RicardomaisqueVerissimo disse...

Talvez igual ou mais importante que "transgredir" é levar o público a refletir junto na "rua" e no "entorno" como equipamento cultural, como território de todos e não só de quem faz dela sua morada... A rua também é casa... E parodiando a música, muitas vezes engraçada, mas ao contrário da letra infantil... ela tem teto, paredes, chão... de muitas formas, muitas cores, cheiros e sensações... Basta ter um outro olhar...

Anderson Gomes disse...

Tivemos e temos uma cidade experiência, e quando digo cidade me refiro a cidade de nossa habitação que não e demarcada por fronteiras. Os limites impostos pela ideia de política devem ser implodidos por que nós somos a cultura da cidade e a cultura que somos está para além de uma ideia definidora de cultura. Nós os habitadores,os transeuntes, os proponentes,os cortejadores, os moradores, os vendedores, os compradores,os pedintes,os pregadores,os ladrões... embora evoque os nomes somos des-formes no conjunto. E na qualidade de "des-algo" somos uma possibilidade de acontecimento na tecitura urbana.

"Quem tem olhos de ver que veja, quem tem ouvidos de ouvir que ouça e que quem tem boca de falar que fale!"