sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Fragmentos de PEQUENAS memórias URGÊNCIAS de um ano que passou . . .


post scriptum:

duas janelas se mesclam nesta reflexão, vejamos a cor da moldura de cada uma:

Cibele Matheus  
Cristiane Santos

*

Fragmentos de PEQUENAS memórias URGÊNCIAS de um ano que passou . . . 




2012
De que são feitos os sonhos? O que é o homem/mulher? O que é o sonho? O que é um ARTISTA? O que são os encontros? Quais são os sentidos / os nossos sentidos de comunidade/coletividade?

Bloco Maria Fuá/2012

Insegurança

Agora somos nós duas

Pois é...

Tocar o barco, colocar o bloco na Praça.

Começo de ano é sempre difícil, acho que o começo de tudo é difícil, gosto mais do meio.

“Um carnaval bem aproveitado vale para o ano inteiro”. Esta eu aprendi em Barão Geraldo.

Colocar os pés no chão, tirar a cabeça das nuvens... Planejar, contar as moedas do caixa, buscar os amigos parceiros.

Domingo antes do carnaval íamos fazer o cortejo pra divulgar o Bloco... Um tiro, um corpo e... E agora? Será que convém colocar o Bloco na rua? Mas como cancelar? É melhor conversar com quem entende do assunto, de carnaval e de comunidade, Mestre Ditinho da Congada e Neusa Borges:


“Tem que ter sim, até pra mostrar que o Calux não é isso, limpar essa mancha com a alegria”

O palhaço da moto, uma figura que não chegamos a conhecer pessoalmente foi a salvação da divulgação do Bloco Maria Fuá.  Virar quatro, virar seis, contas de multiplicação para dar conta de tudo.

Mais foi um carnaval muito bonito, a Fuá cresceu, tinha mais gente do que em 2011. Amigos queridos, amigos de amigos queridos, as crianças, a comunidade fazendo folia debaixo da saia da Fuá.

... Sol, sol, sol, sol, sol

...  Água de mangueira pra refrescar

... Pão com carne louca e suco.

A possibilidade do encontro, de comunhão. É a nossa folia, nosso mundo aos avessos, nossa segunda vida.


Quais são os sentidos / os nossos sentidos de comunidade/coletividade?


Trocar... trocar com o outro... Quais são as nossas URGÊNCIAS!?


Diálogo da Cia. AS Marias com representantes do poder público ou pérolas raras...

...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?

Com a inauguração do CLAC – “O mundo fantástico das artes cênicas” e a entrada de um monte de comissionados andreenses na Secretaria de Cultura perdemos nosso espaço de ensaio e criação na Câmara de Cultura, minto... Podíamos utilizar o espaço à noite, depois de arrastar cuidadosamente os banners da exposição, podíamos usar o quintal que há mais de um ano o vento derrubou a lona e não foi colocada outra no lugar: então com chuva não dá pra usar, com sol de lascar nos lascamos... E a antessala que até dá pra alongar duas pessoas, mais do que isso fica difícil.

Você conhece o espaço da Câmara de Cultura? E o espaço do CLAC?

“O CLAC é o lugar das artes cênicas, da pesquisa, tem espaço pra guardar nossas coisas, cozinha, chuveiro...”

...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?

É um espaço ótimo, mas não serve para nosso trabalho, pois precisamos da rua, do contato com o passante.

“Mas tem uma Praça em frente ao CLAC que pensamos utilizá-la para fazer teatro de rua”

...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?

Que legal, mas não é um local de passagem, é praticamente o playground das casas dos arredores. Quem circula no Baeta além dos moradores do Baeta? A Marechal concentra todos os bairros da cidade, toda periferia da cidade. Sabemos que também é função do artista fomentar público, fazemos isso no Calux, fazemos isso no Centro, temos uma história e um compromisso com o nosso público, público este que estamos sempre formando e sendo formados por eles.

“Não entendo por que As Marias são tem resistentes ao CLAC?”


...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?


Minha filha, não somos resistentes ao CLAC, nós somos resistentes a nossa estética.

Foi um ano de língua afiada e pouco juízo

Cristiane ao secretário de cultura na palestra de inauguração do CLAC:

 “Você enquanto artista não tem vergonha de oferecer cachê de R$100,00 pros artistas da cidade?”

“... Ai, por favor, chega de vale coxinha”

“... Nossa Neto!  É tudo lindo o que você fala, mas eu já estou por aqui dessa conversa. Uma hora é cargo comissionado, outra hora é equipe que vira chefia, chefia que vira equipe. Isso tudo não deixa de ser um departamento de cultura, é tudo muito escolar...”

Cibele em reunião com o Secretário, secretário adjunto, funcionários comissionados, agente cultural e grupos que ocupavam a câmara de cultura:

- “Eu estou cansada de toda vez ter que me apresentar, falar do meu trabalho. Quatro anos de gestão e quatro secretários de cultura!”

- “Sabe, às vezes eu fico pensando... sabe, já pensei isso várias vezes... a vontade que eu tenho é de tacar fogo nessa secretaria de cultura.”

Secretário adjunto:

 – “Mas você esperaria nós sairmos primeiro né?”

Cibele:

-“Não. Eu colocaria fogo em vocês também...”

Risos...
E tantas outras pérolas.


...Quais são as nossas URGÊNCIAS!?


Assim, passamos a utilizar durante o dia o espaço do CAJUV e a noite a Câmara de cultura.

An.dor

Repetir, repetir, repetir, repetir

Aulas com o Junior pela manhã, ensaio, criação à tarde e a noite.

Projeto linha vermelha da Cia. do Miolo. Apresentação de fragmento do trabalho em São Bernardo. Emoção. Bahia. Reflexão do trabalho. Metodologias. Contatos...

No encontro de reflexão com todos os grupos participantes do projeto, uma estranha sensação de deslocamento. A afirmação de algumas escolhas, a escolha de fazer o trabalho com ou sem essa fomentação toda. Quem é esse poder público? O que são esses editais? Rouanet, Proac, Lei de fomento de São Paulo, Funarte, Vai, Petrobrás...

“Mas São Bernardo não tem dinheiro?” nos perguntaram.

“Tem e muito, o que São Bernardo não tem é vergonha na cara, o que São Bernardo não tem é uma classe artística que brigue com e por dignidade”.

Falar do que realizamos em 2011, falar do que fazemos na Praça do Calux nos deixaram orgulhosas, mas senti alguns olhares que diziam: “Poderiam ganhar dinheiro com isso”.

Foi um ano em que nossas ações na praça diminuíram bastante para dar abertura para o nascimento e aprimoramento de outro trabalho da Cia. O espetáculo “An.dor”....nossas travessias dolorosas...afetivas... na busca do encontro...encontrar-se com o outro...dançar para o outro...

Retrabalhamos o espetáculo inteiro, revisitamos algumas imagens, alguns experimentos e apresentamos com o intuito de filmar o espetáculo.

O An.dor é um espetáculo que continua em processo, foi muito importante ter apresentado ele para pessoas da área artística, tivemos um feedback muito positivo. É uma criança que está aprendendo a An.dar... Engatinha, levanta tentando se equilibrar, dá uns passinhos, cai, levanta, se apóia, dá mais alguns passinhos, cai de novo... Mas esse ano ele vai aprender a An. dar, vai crescer.

Pequenas urgências ... mirar...refletir o ano em que o mundo não acabou e nos apontou outras possibilidades de imersão e emergir para outras evocações ...

Dançamos nossos andores pelo centro urbano da cidade... e os parceiros que ali estavam conosco evocaram e acreditaram nos deuses da arte e da beleza e aquele dia se encheu de perfume de flores...

A Moça que casou com o Diabo...

EJA, Expresso Lazer... Alguns ensaios pontuais na Praça. Alex, Anderson, Cibele e Cris.

Desde 2009, muita coisa foi se modificando-movimentando no caminho, mudança de elenco, figurino, funções. Uma escola para todos nós.

Só tenho a agradecer tudo o que eu aprendi com esse espetáculo, com o público, com meus parceiros. Na verdade, não vou conseguir me despedir nunca desse espetáculo onde fui Diabo, Roberval, Cigana, Mambembe e Maroca. Essas personas todas estão em mim e eu nelas. Atuar é uma troca com o que é e o que se pode ser. Já me bateu aquela saudade... Vontade de escrever, de provocar o público, de ver o corpo do outro se sacolejando de tanto rir.

A Moça será eterna em mim, será eterna nas Marias, será eterna pra quem sempre se lembrar que uma vez assistiu a uma peça que tinha uma Moça que queria se casar e que de tanto querer acabou se casando com o Diabo...

2012

Faltou-nos? Faltou-nos também a poesia da praça... Faltou-nos também habitar a nossa praça... pequena morada dos encontros com tantos parceiros, artistas e gente que deseja este alimento... A reencontrávamos nas perguntas e olhares daqueles participantes que também miraram e sonharam outras formas de se habitar o lugar de morada....

E o que mira nossas urgências?

2013...

Os desejos para 2013?!

¿Que mira Maria?

Voltar os olhos pras ações na Praça. As poéticas da Praça... Bloco A Maria Fuá..., oficinas, Mostra.A Mostra Cia. As Marias de Artes de Rua.. O Cine Mambembe... Contar histórias aos domingos às 17HS...


Formação, novas parcerias, novas trocas.


Circular... Conhecer lugares e pessoas.


. . . O encontro...re-encontro com o Outro...


Novo espetáculo... Popular, dança, teatro, música, intervenção, circo. Um infantil?


De que são feitos os sonhos? O que é o homem/mulher? O que é o sonho? O que é um ARTISTA? O que são os encontros? Quais são os sentidos / os nossos sentidos de comunidade/coletividade? Que estratégias serão necessárias para

Trocar... Trocar com o outro...

Dedicação, paciência, humildade.

Aprender a escrever. Escrever nossa história, nossos projetos, nosso processo, metodologia.

Quais são as nossas URGÊNCIAS!?

AS NOSSAS URGÊNCIAS POÉTICAS???!!!



“O que há de ser tem muita força”


Amém