sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Tocar na Banda - primeiro ensaio do Bloco Maria Fuá 20/01


A ansiedade no dia anterior... Como as crianças vão nos receber? Senti-me como me sinto numa estréia, com borboletas no estômago e coração queimando. Sonhei, mas não me lembro do sonho, sei que antes de acordar ouvi um anjo sussurrar nos meus ouvidos:  “Eles sentiram falta”. Fiquei em estado de graça, não é todo dia que recebo um sopro divino. Eu também senti muita falta...

Domingo é dia de Erê, acendi uma vela rosa e azul e rezei antes de sair de casa. Alegria, carinho, paciência, generosidade, amor, que a criança que mora em mim esteja sempre viva.

Minha sobrinha Isabela é integrante da nossa banda de um surdo e uma caixa, ela é a minha sobrinha mais velha preferida, e eu fico muito feliz em tê-la ao meu lado brincando o carnaval.

Bem, domingo é dia de Erê e também dia de “tormento” para quem necessita de ônibus para transitar. E o que esperar de um ônibus cujo número é 13? O que esperar?


Esperar, esperar, esperar, esperar...


Duas horas para depois o “bendito” passar RESERVADO!!!!.


Não é de perder qualquer estado de graça? Perdi, perdi o estado de graça que acordei, esqueci do anjo, liguei pra SBCTrans e soltei os cachorros, reclamei, reclamei, esbravejei, esbravejei até o homem que me atendeu desligar na minha cara. Tive que parar o 19 e pedir carona até o centro para poder no centro pegar o  08. No centro... Esperar, esperar, esperar mais meia hora.

Tive que respirar muito pra poder me recompor... O que me consola é chegar à casa da dona Maria e ser sempre bem recebida, neste domingo tinha feijão preto com lingüiça, arroz, farofa, tudo de bom.

Vamos gente! Bora afinar os instrumentos e ir pra Praça, como se eu soubesse afinar os instrumentos, mas estamos no caminho. 

A garoa tinha passado, o céu com o sol se abriu, olhei pra Praça cheia de meninos... Íamos passando com os instrumentos e todos nos olhando, fomos até o palco de cimentão e pronto, o encontro aconteceu;

Vieram os mais chegados e já foram se chegando, nos abordando, nos cobrando... E nós também fomos chegando, abordando, nos explicando.


Comecei falando que esse ano a Maria Fuá está precisando urgente de pessoas pra ajudar na banda. Nossa banda anda meio des-bandada sabe? E comecei a ensinar uns toques:


 “Ra-pi-din-ho-eu-vou”- toque da caixa. 


“Eu-vou-eu-vou-eu-vou...” do surdo.1,1,1– 1,2 


ou tum, tá, tum –tá,ta do agogô 


e outros toques que fomos inventando.


O ensaio-brincadeira funciona assim, aprende um toque, grita o irmãozinho que sumiu de vista, assiste um pouquinho depois sai correndo, solta pipa cantando alalaô, entra no cordão dançando com a Cris, toca me olhando pra conferir se está certo, mesmo não estando certo eu dou um sorriso incentivando, a Cris e a Isabela eu posso cobrar, os braços doem de segurar o surdo, pausa pra conversa, chama aquele que está mais de cinco minutos olhando de longe, quando toma coragem se aproxima, se aproxima e chama a irmã, dona Maria assiste a tudo com seu olhar atento e paciente.


Vejo os pais nos bancos olhando as crianças, cantando baixinho, aos poucos a Praça está mais cheia e pulsa no Ra-pi-din-ho-eu-vou... A garoa vem voltando e nós nos despedimos com a promessa de um próximo domingo cheio de graças. 


Cibele Matheus

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