segunda-feira, 20 de julho de 2020

Carta 24

Foto: Barbara Morais

No início era como um sonho que começa sem cor,
Só uma ideia que tomava corpo, sopro e um pequeno rubor.
A cada textura que encontrava a sua sola,
Lisa, lamacenta, dura, fria, urbana,
Se tingia na pigmentação exposta no ar,
Do vermelho de modelo se enchia,
Algumas vezes sapato solitário,
Outras de companhia de parceria,
De tantas idas e tantas voltas,
Tantas partidas, feridas e floreadas.
Pequenas diante do mundo,
Mas enormes diante os passos cartografados.
Por onde anda tais sapatos?
Estariam nos pés de um rebolado,
Ou na espera de um chegado,
Ou ainda mais, presos dentro de um armário...
Dos mares avermelhados por dentro,
Dos pulsos expostos ao calor,
É o pisado que traz o fogo,
A vida ganha cor, ganha sentido,
Ganha a cada espaço entre o suspenso e o chão,
Cerne da arabutã, a vermelhidão,
Dos ventos e da poeira,
Cada vez mais serão sapatos vermelhos,

Mergulhados de vísceras e coração.

Binho Signorelli

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