quarta-feira, 22 de julho de 2020

Carta Andor III

Foto: Produção 12ºABCDança, 2017


Andor.inhar

Maleme, rua!

De tempos em tempos, se inundam afluentes de lama que emergem nas suas coreografias cotidianas, uma ablepsia de um imaginário hegemônico, antigo, mas não mais que o sopro, suspiro de Gaia. 

Lama como lava, quebranças de represas, derrubando barragens, é reivindicação, uma nota de aviso... 

Salubá, Nanã! Nada pode conter o fenômeno natural, nada param os ciclos dos acordos da vida. 

Para os mais céticos, incorporações sequestrando meios de existências, e por ganância, perdem-se possíveis "daqui a pouco", soterrados e supulcros corpos. Poeiras nos olhos, tão recorrente quanto os carros que cortam as suas veias. Lacrimejando marinadas íris, secura nas narinas. Somos tias e tios da miséria mundial. Anos passam, as correntes são as mesmas, porém presas nas bases que sustentam edifícios. 

As ruas foram feitas para atravessar, conviver... As ruas foram feitas para dançar! 

Celebrar o que escondido fica, o que não pode ser visto pela falsa neblina... É a chance de alargar uma brecha, uma fresta de luz para novas esperanças. Celebrar o ciclo do corpo alinhado com a força de Jaci, que eleva mares para transbordar, mesmo que esse seja invadido, nunca será domado, porque é a fonte de vida e morte. São insurgências de constantes espíritos selvagens!

Kairós, a espera! Densa como um mangue, pois nem cadeiras sustentam a canseira que se faz a espera, tempos rasgados e esgarçados. 

Maleme, rua e todas as suas histórias, sinuosas histórias! Já fora tudo mato, agora de concreto. Sua polifonia, polirritmia que atravessa essa existência todos os dias.

Binho Signorelli


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