domingo, 26 de julho de 2020

Carta Pina


Foto: Cia. As Marias, 2015

Para as Marias de ontem, hoje e amanhã

 Patricia Santos


“- hoje vamos ao baile!” *

 

“essa é a parte da composição que muitas vezes é constituída por detalhes muitos pequenos. Mas isto começa assim e eu não sei exatamente para onde seguir . . .” (pina bausch)

“-Vamos ao baile, sim. Você não costumava dançar, antes?” *

 

- Sim, costumo dançar nessa praça, nesse café, naquela faixa de pedestres também, sim costumo dançar cinemática com tuas perguntas! Kontakthof

 

“Ternura. O que é isto? O que se faz com isso? Para onde vai? E até onde vai a ternura mesmo? Quando não é mais ternura? Ou mesmo então ainda o é?” Perguntava Pina Bausch

As perguntas de pina abriam portas, janelas, buracos, sensações, soletramentos que já não fazíamos.

VAI COMEÇAR O BAILE!

Pela última vez ela saiu em busca do seu perfume tomou chá e se vestiu de flor um girassol nasceu bem aqui

A manobra no tempo Maria: “é preciso abandonar a vida que planejamos, para viver a vida que nos espera” (Joseph Campbell)

 

“Olhou fundo os seus olhos e viu neles um abandono sem nome, como esse vapor que restara de seu perfume . . . “ *

 

“Uma carícia também pode ser uma dança!” – sussurrou para nós Pina Bausch

 

“O baile, aquele convite, eram uma despedida”*

 

Pela última vez ela saiu em busca do seu perfume tomou chá e se vestiu de flor sapatos surgiram bem aqui

 

“Eu acho que antes a gente tem que voltar a aprender a dançar, ou antes tem que aprender outra coisa – depois a gente pode talvez voltar a dançar” (Pina Bausch)

 

“A lágrima é água e só a água lava tristeza . . . De quem, dentro dela mesma, ela se despedia?” *

 

Pela última vez ela saiu em busca do seu perfume tomou chá e se vestiu de flor sapatos vermelhos toda sorte de miúdas bolinhas coloridas sorriam bem aqui

 

“Olhou o estrelejo nos céus. As estrelas são os olhos de quem morreu de amor. Ficam nos contemplando de cima, a mostrar que só o amor concede eternidades” *

 

(...)

 

“Porque, dentro dela, em olfactos só da alma, ela sentiu o perfume.” *

 

*trechos do conto O Perfume, de Mia Couto (Estórias Abensonhadas, Editorial Caminho, 1994)

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