sábado, 25 de julho de 2020

Carta (R) Existir


Foto: Cia. As Marias,

Carta (R) Existir

Patricia Santos


Eu não quero ter o limite da categoria humano, quero ter a multiplicidade de um corpo-boi, corpo-boneca, corpo-vento, corpo-tambor, corpo encantado das ruas, corpo encantado das festas.

 A FESTA NÃO É PARA CONSUMIR!

"Porque a festa é esta clareira para a qual cada um traz a sua estória, é um encontro de fios de vida que de repente se emaranha e forma linda teia reluzente. O conjunto de amigos e familiares não são vidas em teia que podem escolher brilhar juntas? A boa festa reflete esse brilho, faz passar acima do difícil da vida, nem que seja por uma noite, para ganhar a força que o afeto partilhado produz. “A ver: ô mundo, esta vida, quando descansa de ser ruim, é até engraçada.”"

(fonte: http://outraspalavras.net/oca/2015/06/29/guimaraes-rosa-especula-sobre-o-ato-de-celebrar/)


Fui educada pela Festa

Viajei no som de toadas sempre

Amei, dancei, cantei dentro delas

Fui Boi, fui Dansadeira,

Fui a roda da roda da saia

O bater da caixa da ciranda,

E em cada pisada poeira terreiro praça

Virei Rei, Rainha Caboclinha

Catirina e Bastião

Fui Lera, Zé da Fome e a Maroca

Fui o Diabo São Gonçalo e a Cumadre  

Vendi beijos, vendi sonhos,

Viajei na cacunda do Tempo

Ergui minhas bandeirinhas e celebrei Xangô Menino

Fui educada pela Festa

Na campainha de mestras e mestres

Crianças, velhos, mulheres

Bebi, comi e servi na pharmacopéia da alegria

Cortejo da existência insistência

Despistando a Fome e a Morte

Fui educada pela festa.

 

“E todos os dias têm essa janela por diante,

 E todas as horas parecem minhas dessa maneira”

(Alvaro de Campos)

 

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