Carta (R) Existir
Patricia Santos
Eu não quero ter o limite da categoria
humano, quero ter a multiplicidade de um corpo-boi, corpo-boneca, corpo-vento,
corpo-tambor, corpo encantado das ruas, corpo encantado das festas.
"Porque a festa
é esta clareira para a qual cada um traz a sua estória, é um encontro de fios
de vida que de repente se emaranha e forma linda teia reluzente. O conjunto de
amigos e familiares não são vidas em teia que podem escolher brilhar juntas? A
boa festa reflete esse brilho, faz passar acima do difícil da vida, nem que
seja por uma noite, para ganhar a força que o afeto partilhado produz. “A ver:
ô mundo, esta vida, quando descansa de ser ruim, é até engraçada.”"
(fonte: http://outraspalavras.net/oca/2015/06/29/guimaraes-rosa-especula-sobre-o-ato-de-celebrar/)
Fui educada pela Festa
Viajei no som de toadas sempre
Amei, dancei, cantei dentro delas
Fui Boi, fui Dansadeira,
Fui a roda da roda da saia
O bater da caixa da ciranda,
E em cada pisada poeira terreiro
praça
Virei Rei, Rainha Caboclinha
Catirina e Bastião
Fui Lera, Zé da Fome e a Maroca
Fui o Diabo São Gonçalo e a Cumadre
Vendi beijos, vendi sonhos,
Viajei na cacunda do Tempo
Ergui minhas bandeirinhas e celebrei
Xangô Menino
Fui educada pela Festa
Na campainha de mestras e mestres
Crianças, velhos, mulheres
Bebi, comi e servi na pharmacopéia da
alegria
Cortejo da existência insistência
Despistando a Fome e a Morte
Fui educada pela festa.
“E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira”
(Alvaro de Campos)
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