domingo, 26 de julho de 2020

Carta Arraial


Foto: Cia. As Marias, 2015

A Encantada do Arraial

Binho Signorelli


Nascia enovelada de palha, chita e botões,

A Encantada do Arraial.

Só era vista nessa época,

E só por olhos de corações apaixonados.

Se houvesse um casal de dengo,

Lá estava a Encantada do Arraial a lançar seu charme.

A ganhura dos brincos de rosas grandes,

Veio de uma competição de rapazes,

Estes, arrebatados pelas paixões,

Esqueciam suas namoradeiras,

Foi aí que as delicadas orelhas ganharam suas rosas.

E corriam atrás de outro rabo de saia dançante,

Quando o pico da fogueira flamejava,

Era quando a moça boneca aparecia,

Não importava que não era de carne e osso,

Só importava ter uma chance de dançar com ela,

Acompanhados pelas faíscas voavam. 

Mas o pobre coração da moçoila se chamegou,

Por um broto que ia em sua direção,

Toda serelepe ficou, 

Se tivesse um coração, talvez tivesse palpitado,

Mas o moço vestido todo de azul passou por ela,

O único não rendido de suas graças arraialescas,

Dançava cangote com cangote com outra moça,

Dizem que aí, a Encantada do Arraial,

Perdeu a cabeça e se tornara a protetora da brincadeira. 

Guardaram sua cabeça numa redoma,

Pra quando o sol girar mais uma vez,

E a fogueira, o baião voltar a entoar as noites de São João,

Lá estaria a cabeça no alto do pau de cebo,

Zeladora dos corações paixonantes.

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